sexta-feira, 9 de março de 2012

GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA: UM DESAFIO DO SÉCULO XXI



Sonia Cristina de Oliveira, Cleomar Ferreira Gomes
Um diretor de escola é um gestor da dinâmica social, um mobilizador e orquestrador de atores, um articulador da diversidade para dar-lhe unidade e consistência na construção do ambiente educacional e promoção segura da formação de seus alunos, suas ações tenha em mente o conjunto todo da escola e seu papel educacional. Não apenas imediato, mas de repercussão no futuro, em acordo com visão estratégica e com amplas políticas educacionais. (LUCK, 2000).

Este artigo analisa algumas questões atinentes à gestão escolar e às exigências necessárias à formação dos responsáveis pelas escolas, frente às demandas atuais e ao contexto de uma sociedade que se transforma e se modifica constantemente.  Gestar uma escola significa ser dotado de conhecimentos pedagógicos para compreender o processo educacional, compreender a função da escola, articular políticas de formação com a política de gestão – visão estratégica e possuir um novo olhar quanto à construção do projeto político pedagógico que é uma ferramenta que possibilita gestão democrática. 
A gestão democrática ainda se encontra muito em aberto à construção do conhecimento e à aprendizagem, dada a dificuldade que se tem de mudanças de paradigmas. Estas não acontecem de forma rápida, pois consistem em um processo histórico e construído com muita dificuldade pela sociedade. Durante muito tempo, a educação viveu apenas sob o domínio do modelo da modernidade fincado em suas verdades prontas, em seus conhecimentos cristalizados e sem direito à participação da coletividade.   Atualmente, para dar conta de um novo modelo organizacional na escola é preciso passar por várias mudanças como, por exemplo, de paradigma.  É preciso, ainda assimilar novas formas de se relacionar com o conhecimento, a pesquisa, a organização e a função da comunidade no envolvimento da educação. Para atuar em um novo modelo de escola é necessário também compreender sua função, conforme Rios (1993, p. 38).
A escola não está nem fora da sociedade, com uma autonomia absoluta diante dos fatos que estimulam as mudanças sociais, nem muito menos numa relação de subordinação absoluta, que a converte em mera reprodutora do que ocorre em nível mais amplo na sociedade. A escola é parte da sociedade e tem com o todo uma relação dialética – há uma interferência recíproca que atravessa todas as instituições que constituem o social. Alem disso, podemos verificar que a escola tem uma função contraditória – ao mesmo tempo em que é fator de manutenção, ela transforma a cultura.
A escola mantém e transforma ao mesmo tempo, influência e é influenciada pela sociedade.  Neste sentido, destaca-se a importância da formação daqueles que administram as escolas, seus conhecimentos pedagógicos para compreender o processo educacional precisa passar por uma profunda reflexão filosófica sobre a educação, revelando o domínio ético, político e a compreensão da autonomia fundada no respeito à diversidade, à riqueza das culturas e à procura da superação das marcantes desigualdades locais e regionais na partição e no envolvimento de todos.
Essa mudança de paradigma tão necessária nas escolas deve perpassar pela implantação de novas práticas voltadas para interação, participação, envolvimento e buscas de parcerias para solução de problemas e ampliação de novos olhares no contexto educativo.  A educação é um processo que se deve ligar ao mundo do trabalho e à prática social, portanto, é necessária a participação para se construir projetos voltados aos anseios da coletividade. E também se fazer política no sentido de modificar a sociedade e ser modificado por ela, para tanto é necessária visão política. As ações educativas estão permeadas das ações políticas, aqui compreende-se a importância dos gestores escolares possuírem uma formação que venha ao encontro dessa demanda, com visão estratégica de futuro.  Pois,
A escola se encontra no centro de atenções da sociedade. Isto porque reconhece que a educação, na sociedade globalizada e economia centrada no conhecimento, constitui grande valor estratégico para o desenvolvimento de qualquer sociedade, assim como condição importante para a qualidade de vida das pessoas. Luck (2000, p. 12).
Este é um enfoque que, se adotado, exige que se abandone o modelo arcaico, antigo e fundado na cobrança.  É preciso que o gestor tenha um novo perfil, com especial atenção às diversas demandas sociais que surgem, é essencial que tenha, também, novos conhecimento e habilidades para que possa dar conta dessa educação que é responsabilidade de todos.  O envolvimento de professores, equipe técnico-pedagógica, funcionários, alunos, pais e comunidade, devem formar um jeito diferente de compreender o papel da escola e sua gestão. Neste modelo, o trabalho deve ser entendido como prática social e orientador da ação de gestão realizada na organização de ensino.
Conforme Luck (2000), o paradigma de gestão escolar tem como base alguns fundamentos muito necessários para a implantação do modelo: a) a realidade é global onde tudo está interligado; b) a realidade é dinâmica construída pelas interações entre as pessoas; c) o ambiente social e comportamento humano são dinâmicos e imprevisíveis; d) a incerteza, ambigüidade, contradições, tensões, conflito e crise são vistos como naturais e como condição e oportunidade de crescimento e transformação; e) a busca de realização e sucesso corresponde a um processo e não a uma meta; f) a responsabilidade maior do dirigente é a articulação; g) as boas experiências não devem ser copiadas, sim resignificadas por causa das peculiaridades locais e organizacionais; h) as organizações devem priorizar a participação conjunta e mobilizar equipes atuantes, pois os talentos e a sinergia humanos são recursos poderosos numa organização. Estes aspectos são essenciais na visão democrática como garantia de mudanças comportamentais e organizacionais.
 Frente às pressões por que um gestor passa, fica evidente que ele necessita de formação condizente com o modelo de gestão que adotou, senão corre o risco de ser dominado pelo sistema ao invés de funcionar como um modificador e transformador do mesmo. Ele deve participar de formação continuada, construir projetos políticos pedagógicos que possibilitem a inclusão social e lutar pelos direitos humanos, para tanto priorizando as categorias de autonomia, democracia, currículo e formação continuada dos professores e da comunidade. Não separando também a realidade social da escola e os referenciais teóricos. Conforme ressalta Freire (2002) uma educação em favor da autonomia do ser. Finalmente, outro aspecto essencial na gestão democrática é evitar a rotatividade, este fato traz a descontinuidade dos processos e prejudica o amadurecido para as transformações.
Referências bibliográficas.
André, Marli (Org).O papel da pesquisa na formação e na prática dos professores. 3.ed. São Paulo: Papirus, 2002.
Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 23.ed. São Paulo:Paz e Terra, 2002.
Pereira, Júlio Emílio Diniz. Formação de professores – pesquisas, representações e poder. Belo Horizonte: Autentica, 2000.
Pimenta, Selma Garrido (org). Saberes pedagógicos e atividade docente. 2ªed. São Paulo: Cortez, 2000.
Luck, H. Perspectivas da Gestão Escolar e Implicações quanto à formação de seus gestores. Em aberto, Brasília, v. 17, n.72, 11-33, fev. /jun.2000.
Veiga, I.P.A. Educação básica e Educação Superior: projeto político pedagógico. Campinas. Papirus, 2004.
Publicado em 08/07/2005 15:30:00

Sonia Cristina de Oliveira, Cleomar Ferreira Gomes - Sonia Cristina de Oliveira: Psicóloga no Estado de Mato Grosso. Mestre em Educação pela UFMT. Especialização em Psicopedagogia pela UNIC e Especialização em Dinâmica de grupos pela UFMT. Professora no Curso de Direito da Universidade de Cuiabá – UNIC.      
Cleomar Ferreira Gomes:
 Professor Doutor da Universidade Federal de Mato Grosso do Programa de Pós-Graduação em  Educação

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